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Organon envia carta aos artistas que participarão do evento de arte promovido pela Vale

​Vitória, 19 de outubro de 2017

Aos artistas e pesquisadores que participarão do evento promovido pela mineradora Vale: “Encontros com Arte contemporânea”, entre os dias 25 e 27 de outubro de 2017, em Vitória, Espírito Santo.

Car@s,

Dirigimo-nos aos senhores e as senhoras para apresentar informações sobre a atuação da empresa que promove o evento do qual participarão e para fazer-lhes uma pergunta.

No dia 5 de novembro de 2015 a barragem de rejeitos da mineradora Samarco S.A., uma joint-venture entre a brasileira Vale S.A. e da anglo-australiana BHP Billiton, rompeu despejando rejeito da mineração de ferro por várias comunidade, ao longo de toda a bacia do rio Doce e no mar. Esse é considerado o maior desastre envolvendo barragens de rejeito de mineração do mundo, considerando os registros iniciados em 1915. Foram lançados em volume de rejeito cerca de 60 milhões de m3 e a distância percorrida pela lama foi de 600 km até chegar à foz do Rio Doce, adicione-se ainda o trajeto percorrido pelo mar, encontrando-se hoje no sul da Bahia. Os prejuízos materiais são estimados em US$ 5,2 bilhões, ou R$ 20 bilhões, baseado no valor estipulado pelo governo federal.

Em Minas Gerais a lama praticamente soterrou povoados, deixando Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Gesteira, a cidade de Barra Longa e outros povoados na cidade de Mariana, destruídos. Entre mortos e desaparecidos, foram 19 pessoas. “Mais de 1.200 pessoas ficaram desabrigadas; pelo menos 1.469 hectares de terras ficaram destruídas, incluindo APPs e UCs (Parque Estadual do rio Doce; Parque Estadual Sete Salões; Floresta Nacional Goytacazes; e o Corredor da Biodiversidade Sete Salões-Aymoré). Houve prejuízo a pescadores, ribeirinhos, agricultores, assentados da reforma agrária e populações tradicionais, índios Krenak, [Guarani e Tupinikim], na zona rural, e aos moradores das cidades ao longo dos rios atingidos.” (PoEMAS:2015)

Passados 2 anos, as empresas ainda não indenizaram os afetados e não iniciaram um processo profundo de reparação do Rio Doce. Constituíram de forma vertical e autoritária uma fundação (Renova) cuja atuação tem sido objeto de críticas diversas da população, de cientistas, das Defensorias Públicas e do Ministério Público Federal. Dentre os efeitos nocivos que persistem estão: 1. Comprometimento do abastecimento de água de regiões urbanas que dependem do rio Doce para esta finalidade e de populações ribeirinhas que usavam diretamente a água do rio; 2. Comprometimento de atividades econômicas e de lazer, diversas, dependentes da água e/ou do rio; 3. Mudança drástica no modo de vida de populações tradicionais; 4. Interferência nas relações sociais preexistentes; 5. Efeitos emocionais diversos coletivos e subjetivos.

Tendo em vista esse crime ambiental cometido pelas mineradoras e tendo em vista o evento, cujo título é “Encontros com Arte contemporânea”, promovido por uma das mineradoras criminosas no contexto do aniversário de 2 anos desse crime, nós gostaríamos de perguntar: Como a arte contemporânea se encontra com o maior desastre ambiental do Brasil e o maior desastre de mineração do mundo?

Cordialmente,

Organon - Núcleo de estudo, pesquisa e extensão em mobilizações sociais (UFES)

Apoiam esta carta:

PLACE - Plano conjunto de espacialidades, CAr - UFES

DISSOA CNPq/ UFES

GEPSA/UFOP

PoEMAS/ UFJF e UFRJ

LEFTT - Laboratório de Estudos em Formação, Trabalho e Transdisciplinaridade

Referências:

PoEMAS. Antes fosse mais leve a carga: avaliação dos aspectos econômicos, políticos e sociais do desastre da Samarco/Vale/BHP em Mariana (MG). Relatório Final. Mimeo. 2015.

Relatório de impactos socioambientais do grupo Organon: http://www.ufes.br/sites/default/files/anexo/relatorio_de_impactos_organon.asd_.pdf

Livro publicado:

Dossiê:


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